terça-feira, 16 de abril de 2013

Massa Instantânea


Massa Instantânea
Eu falo de uma massa
Que não é espaguete,
É um massa crua,
É o menino de rua
Rotulado de pivete
Pela eucação escrava.
Eu falo de uma massa
Que não é macarrão,
É o guri sem teto,
Sem afeto, analfabeto,
Seu colchão é o chão,
Vida de cão sem raça.
Eu falo de uma massa
Que não é massa folhada,
Pede grana n sinal,
So tem folhas de jornal
Contra o frio da madrugada,
Sua pele é sua couraça.
Eu falo de uma massa
Que não é de pastel,
Recheada de vento
E dormindo ao relento
O seu teto é o céu,
Seu recheio, é só carcaça.
Eu falo de uma massa
Que não é ravioli,
Intragável, indigesta,
que a princípio não presta
E que ninguém engole,
E no mole, despedaça.
Eu falo de uma massa
Que não é parafuso,
É o moleque inteligente
Que de tanto solvente
Vai ficando confuso
Enquanto o tempo passa...
Eu falo de uma massa
Que não é panqueca,
Fissurada no crack
A mente sente o baque
Enquanto o corpo seca,
E a vida embaraça.
Eu falo de uma massa
Que não é capelete,
Não tem armas pra luta
Nem força pra discupta,
Por isso nem compete,
Fica vivo por pirraça.
Eu falo de uma massa
Que não é nem um miojo,
Boicotada, atrofiada,
Que não é valorizada
E a elite tem nojo,
Seu paraíso é a praça.
Vem agora e abraça
A massa instantânea,
Que não quer ficar no molho
Mas transcender o teu olho,
Quer tua atitude espontânea,
Vem agora e ABRAÇA!

(Autor: Carlinhos Guarnieri)

Um comentário:

  1. Lendo este texto, não consigo deixar de recordar da música " A Massa " do Raimundo Sodré :



    A dor da gente é dor de menino acanhado
    Menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar

    Que salta aos olhos igual a um gemido calado
    A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar
    Moinho de homens que nem girimuns amassados
    Mansos meninos domados, massa de medos iguais
    Amassando a massa a mão que amassa a comida
    Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais

    Quando eu lembro da massa da mandioca mãe, da massa

    A dor da gente é dor de menino acanhado
    Menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar
    Que salta aos olhos igual a um gemido calado
    A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar

    Quando eu lembro da massa da mandioca mãe, da massa
    Nunca mais me fizeram aquela presença, mãe
    Da massa que planta a mandioca, mãe
    A massa que eu falo é a que passa fome, mãe
    A massa que planta a mandioca, mãe
    Quand je rappele de la masse du manioc, mére
    Quando eu lembro da massa da mandioca

    Lelé meu amor lelé no cabo da minha enxada não conheço "coroné"
    Eu quero mas não quero (camarão). minha mulher na função (camarão)
    Que está livre de um abraço, mas não está de um beliscão
    Torna a repetir meu amor: ai, ai, ai!
    É que o guarda civil não quer a roupa no quarador
    Meu deus onde vai parar, parar essa massa
    Meu deus onde vai rolar, rolar essa massa

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