parte da entrevista:
LF Parece‑me que houve um ponto em que a etnografia e o trabalho técnico se encontraram na rua: foi a propósito da redução de riscos e minimização de danos, nomeadamente no que diz respeito ao trabalho na área das drogas. Pela primeira vez, a investigação sobre os ambientes, os actores e os produtos psicoactivos que circulam na rua, a etnografia e a intervenção técnica no campo das drogas estão juntas e no mesmo cenário – a rua, as partes “más” da rua. Falo, portanto, da redução de danos como mecanismo de suporte a populações mais frágeis e mais marginalizadas. Concordas que é assim? E como é nos Estados Unidos?
PB Estou a analisar esse fenómeno do movimento de “redução de riscos e de minimização de danos” e uma coisa que verifico é que um tema que tratamos ao trabalhar em saúde pública é que esquecemos muito que nos EUA, apesar de alguma retórica da parte dos académicos, a redução de danos não existe, não é uma política de Estado. É ilegal utilizar dinheiro do Estado federal para a troca de seringas e, pior, basta utilizar a expressão “redução de danos” numa publicação nos EUA para não conseguir qualquer tipo de financiamento do Estado. É incrível… não podemos utilizar esta expressão, mas agora a maioria das publicações está a utilizar a expressão “redução de riscos”. Se utilizar a expressão “redução de danos” numa proposta de financiamento, não se consegue obtê‑lo. É como a palavra “comunista” nos anos 50. É uma irracionalidade! Já o termo “risco” tem um sentido puritano – de controlo dos riscos, de tomada de responsabilidade individual pelos riscos.
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